Há pouco menos de 2 anos atrás, eu encerrava uma experiência de anos na Espanha e me programava para voltar a morar no Brasil. Marquei minha data de volta para o início de novembro por um desejo: conseguir participar do TEDxAmazônia, no meio da selva tropical.

A experiência foi, mesmo, tudo que comentamos desde então. Também pra mim, o impacto daquele evento foi enorme porque encontrei o contexto perfeito para entender o que estava por trás de várias de minhas inquietações profissionais e pessoais. Desde que decolei em Barcelona e pousei em Manaus, convivo com a certeza de que preciso investigar um tema: o Brasil, com S.

Em comum em todas as palestras que mais amei, estava um olhar ou informação que eu ainda não conhecia sobre o meu país. Ao meu lado, um amigo com história e trajetória bem próximas às minhas, o Thiago Colares. Ele e eu trocávamos olhares de cumplicidade e emoção cada vez que terminava uma dessas palestras e, a partir de então, sempre que encontramos algo que nos traga conteúdo similar, reafirmamos: é isso!

Lembrei-me de uma dessas palestras, quando conversava com a Ana e ficou claro que concordamos muito em um ponto: alguns gringos estão feras em trazer perspectivas óbvias e sinceras sobre o Brasil que muitas vezes ignoramos. Desarmados da necessidade de comparar comportamentos brasileiros com americanos ou europeus e isentos das classificações reducionistas, eles conseguem contribuir para encararmos o nosso país com S de sinceridade.

Em sua apresentação naquele TEDx, o Paul, da IDEO, falou da criatividade brasileira exatamente assim. Trouxe imagens e observações puras do cotidiano para explicar a nossa capacidade de reinventar utilidades para um mesmo objeto.

Pra mim, a contribuição dessa fala está em encarar o trivial como um fato valioso. Esse olhar de estranhamento que não descarta o que é classificado por muitos como óbvio ou conhecido é, por exemplo, uma das forças de uma análise antropológica: um etnógrafo vai a campo justamente com esse olhar de gringo que assume que tudo é informação.

Daí fico pensando que, no Brasil, somos um pouco gringos uns dos outros. No mundo do comportamento, sabemos menos sobre alguns estados brasileiros do que sobre países que estão em outros continentes. Imagino que é poderoso assumirmos isso.

Ao mesmo tempo que lemos livros estrangeiros sobre design thinking, inovação e criatividade, podemos encarar nossos pré-conceitos sobre nós mesmos. Seria divertido assumir quão gringos somos no próprio Brasil e ir a campo dando-nos o direito de estranhar, de questionar, de observar. E de falar sobre a nossa essência criativa e complexa, com simplicidade e leveza.

É isso!

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