Periferia é o lugar que está margeando o centro. No Brasil, um lugar que temos deixado às margens.

Lugar de preto, de pobre, de imigrante (pobre), nordestino, índio, nortista. Onde mora a faxineira, o motorista. Um lugar perigoso, de difícil acesso. Será?

Lugares, com S. Google Maps: periferia, Brasil. Além de uma concentração nas regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo, várias outras periferias no nosso país. Inclusive um ponto bem na minha cidade natal, Montes Claros, esse lugar de sertanejo simples.

Televisores de poucas polegadas, pouquíssimos aspiradores de pó. Quando estudamos, descobrimos que grande parte da periferia é classe C/D/E. E dormimos imaginando que sabemos muito. Ou, pelo menos, que sabemos algo relevante.

Ou lá vamos nós participar de mutirões de solidariedade quando alguma questão natural abala as desestruturadas bases desses lugares. E voltamos emocionados e lamentando a vida carente do tal do povo brasileiro.

Até que alguém diz na televisão que superamos uma outra crise global por nossa economia informal. Ou um gringo olha pro morro, fica curioso, e nos leva lá.

A periferia atravessou as estradas e avenidas engarrafadas do Brasil, de transporte público, e, por isso, nos conhece a todos. Nós, só agora começamos (até porque nos convém, sejamos sinceros) a prestar alguma atenção nesses lugares e pessoas que deles vieram.

E, com o pouco que sabemos, já deveríamos assumir que nossas categorias de análise não apresentam correspondência real com a periferia. E que, no cotidiano, esses lugares se reinventaram de uma forma orgânica que não explicamos bem.

Descobrimos que comunidade e colaboração são termos que sempre fizeram sentido por lá. E nos permitimos dançar seus ritmos ícones (como traz Marcus Faustini, no Guia Afetivo da Periferia): forró, brega, rap, sertanejo.

E começamos a admirar esse jeito de marcar território e impor respeito na voz. Na atitude.

Acho que o próximo passo é reconhecer todas essas margens como seus próprios centros. E assumir que agora somos nós quem devemos atravessar a cidade, e o país. Mas, não com olhos que buscam o exótico ou o ingênuo (como bem disse aqui o Dorly Neto). Mas como quem deve aprender a ter respeito por sua própria história.

É nóis, Brasil!

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Imagem: Contingente, obra de Adriana Varejão)