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O brasileiro, de qualquer região e independente da grana que tem no bolso, come arroz com feijão. Essa composição alimentar homogênea é figura de livro das ciências sociais. Tão frequente quanto a menção ao nosso fenótipo diverso. E quem já morou fora sabe que é mesmo mais fácil reconhecer um brasileiro pelo prato que ele prepara em casa do que pelo tom da sua pele ou formato do seu olho.

Um fato e não um clichê, como traz a antropóloga Lívia Barbosa em artigo de 2007: 95% dos brasileiros comem arroz com feijão no almoço. Veja aqui: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832007000200005

Eu nunca comi arroz e sempre achei esse padrão de comportamento intrigante: como assim tantas pessoas diferentes, que moram em lugares tão distantes… como pode o prato desse povo todo ser igual?

Pra quem é curioso ou quer entender mais sobre a nossa alimentação, um nome: Luís da Câmara Cascudo. Foi lendo dois de seus livros, História da Alimentação no Brasil e Antologia da Alimentação no Brasil, que respondi essa minha questão.

Pra começar, o feijão. Ou a grande quantidade de leguminosas que, no Brasil, chamamos de feijão. Disponível e de cultura facílima, foi elemento importante para a povoação do país. As mulheres conseguiam cultivá-lo e fixavam as famílias próximas às plantações. Os homens podiam transportá-lo em suas andanças. Não era difícil e ainda saciava? Os filhos de europeus, ameríndios e africanos dedicaram-se a temperar, a reinventar e a gostar do tal do feijão. E aqui estamos.

Feijoada. Feijão Todo-Dia. Feijão Marumé. Feijão Tropeiro. Feijão Preto. Tutu de Feijão. Tutu à Baiana. Feijão Branco. Verde. De corda. Mulato. Carioca. Bordado. Isso tudo, continuamos chamando de feijão.

O arroz não competia com a farinha e com o milho em 1500. O europeu é que, obstinado, insistiu em incentivar o arroz por aqui. Prato de branco, das grandes cidades, ganhou significado de status e era consumido por tradição e aspiração. Antes de sua produção ser facilitada, sua presença era possível na sobremesa: arroz-doce brasileiro.

De Leite. De Creme. De Haussá. De Cuxá. À Maranhense. Bobó. De Pequi. Canja.

Comemos arroz com feijão. Resposta verdadeira, mas isso não significa que nossos pratos são iguais. Faça fotos de pratos ao redor do Brasil, mostre para um gringo e tente explicar que tudo é a mesma coisa. Talvez, penso, repetir que comemos arroz com feijão seja só mais uma forma que criamos de não termos que encarar e explicar nossa complexidade interna.

Se meu pai colocasse seu almoço de hoje nesse prato que ilustra o post, obra do Nino Cais, nós poderíamos ver arroz com pequi e feijão verde. E na casa de tua família, teu arroz com feijão é igual ao meu?