E em meio a tantos destinos, lugares como a Chapada Diamantina continuam sendo escolhidos, e preferidos, por vários inquietos, sensíveis ou artistas. E, na volta, os relatos seguem sendo de encanto e transformação.

Por que será?

Estudando comportamento e disseminação de informação, aprendi sobre a importância dos grandes centros como espaços aglutinadores de pessoas conectadas, fazedoras e, portanto, mobilizadoras. Os grandes e mutantes centros “onde as coisas acontecem”. Os hubs (claro, em inglês).

Mas – e agora que andar de avião nem é tão bom assim – quem de nós, circulando por esses centros, não teve a sensação de que o mundo está cada vez mais parecido? O mesmo idioma, as mesmas músicas. Os assuntos, as exposições, os livros lidos e as notícias que provocam as mesmas emoções.

Exagerando, às vezes penso que esses lugares são é onde as mesmas coisas acontecem!

Até que chega, nesses centros, alguém que viveu anos em um cenário diferente, ou que acabou de experimentar uma região um pouco mais tradicional (do literal: que mantém algo de sua tradição original).

Aí surge uma nova palavra, um som nunca antes percebido, um ritmo de dança que muda o compasso, um modo de funcionamento que quebra paradigmas, um repertório que aponta para novos olhares.

E uma inspiração regional rompe um ciclo de mesmice e desperta um pensamento criativo genuíno.

Há algum tempo ensaio dizer que lugares assim, que tentam cuidar de sua tradição sem necessidade imediata de equiparar-se aos centros de conhecimento e cultura, não são mesmo centros de mobilização e conexão. Mas, são centros de inspiração.

Em minhas pesquisas sobre pessoas e projetos na Chapada Diamantina, agora e para O Brasil Com S, essa noção de tentativa de manutenção da cultura local (tentativa, sabemos) foi recorrente. E, talvez, essa característica tenha uma conexão imediata com os relatos de “transformação de vida” após um período por lá: permanece algo cultural próprio daquele ecossistema que desloca visitantes e migrantes para níveis diferentes de pensamento.

Em minhas viagens para a Chapada Diamantina uma característica do povo sempre me encantou: a simplicidade presente em um cenário completamente exuberante. Com uma topografia reconhecida como magnífica, tendo vivido e decaído de ciclos de riqueza, com visitas de diversos lugares… As pessoas da Chapada interessam-se mesmo é pelo cotidiano, pelas histórias de seu povo, pela sabedoria do fazer. E, talvez, nestes tempos de tantos estímulos diferentes para as mesmas coisas, uma volta para o essencial cause mais transformações.

 

Um manifesto

Acho que muitos de nós, brasileiros criativos, temos uma Chapada Diamantina de nossa história ou viagens. Somos um país rico de centros inexplorados de inspiração.

E por muitos motivos a maioria de nós ignoramos essa fonte de inspiração regional e essencial.

Se conseguirmos mudar nossa forma de olhar pra nós mesmos e perdemos um pouco o medo do pré-conceito que temos de nossa história (coletiva e individual)… talvez as livrarias, as passarelas, os museus, os restaurantes e papos no Brasil tornem-se mais interessantes do que em outros destinos do mundo.