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“Em 2008 passei uma tarde de domingo navegando pela internet e assistindo vídeos de uma dança que ainda não conhecia. Lembro do quanto fiquei impressionado com a sofisticação e velocidade dos movimentos. Eram adolescentes dançando o funk numa forma que chamava a atenção pela alta capacidade de improviso e pelo grande preparo físico. Os vídeos no youtube eram feitos amadoristicamente mas a técnica de filmagem passava despercebida diante da complexidade de movimentos. A expressão de satisfação dos dançarinos era algo gritante também. Muitos desses vídeos não informavam o nome dos dançarinos, muito menos de onde eles eram. Essa tarde deixou uma enorme curiosidade em mim.

Em 2011 fui convidado por Julio Ludemir e Rafael Nike para ser jurado da Batalha do Passinho. Recusei o convite na hora e me ofereci para filmar o evento que eles iam organizar. A idéia inicial era fazer um curta metragem sobre a Batalha. Seria uma forma de matar a curiosidade que aquela tarde de domingo despertara anos atrás. Durante a Batalha tive contato com os garotos e fui percebendo a complexa relação dos dançarinos de passinho com aquela arte: o universo dos bailes e seus duelos, a produção de vídeos no youtube, a disputa retórica para se afirmarem como grandes dançarinos, a batalha do passinho, entre outras coisas.

Fazer “A Batalha do Passinho” foi viver no olho do furacão dos acontecimentos. Acompanhei o movimento crescer e se estabelecer como a mais nova representação cultural carioca. Fiz amigos que até hoje fazem parte da minha vida. O Passinho é algo que o Rio de Janeiro nunca viu antes. Ele mistura o mundo virtual com o real e coloca a periferia e sua cultura num lugar diferente. De certa forma ele é a representação das mudanças que a sociedade brasileira sofreu nos últimos 10 anos. Tudo é ainda muito novo. Não é só a dança que é nova. É o jeito de se vestir, de falar, de entender e de se colocar no mundo. É uma revolução cultural que está acontecendo diante de nossos olhos.

Em “A Batalha do Passinho” consegui traçar um arco do primeiro ato desse movimento. Como surgiu? Quem eram as pessoas que estavam lá desde o início? Quais eram os sonhos desses jovens? Fazer o filme foi também participar de maneira ativa de toda essa transformação”

Emílio Domingos, sobre o filme que estreia nos cinemas no Rio no final de Agosto.

Pesquisa e entrevista: Ana Luiza Gomes