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O cheiro forte do fruto que se espalha por toda a casa. As estradas repletas de seus catadores. O amarelo vivo nas feiras de dezembro. A farinha-ouro com gosto marcado. Os pratos cheios de teu caroço após as refeições. O esforço para conseguir extrair sua semente e óleo. O licor de sobremesa.

Assim como quem nasce em Goiânia, conheço bem a presença do pequi no cotidiano dos dias quentes de verão. (Nasci no Norte de Minas Gerais e nas viagens de minha infância via pequizeiros e barracas de pequi pelas estradas. Em muitos domingos, a minha família senta à mesa para roer pequi, tiragosto, como na foto feita há poucos meses na casa de meus pais.)

O principal símbolo da culinária goiana, e do Cerrado, normalmente está presente em pratos com arroz ou galinhada. Mas também desdobra-se em óleos, picolés, sorvetes, doces e uma infinita variedade de pratos e quitutes na cidade.

E é um dos frutos brasileiros mais polêmicos: gera curiosidade, embaraço, repulsa, insistência e adoração.

Por ser de cultivo local, sazonal, esteticamente muito diferente e atraente e também possuir gosto e cheiro fortes e únicos, o pequi causa um alto impacto inicial: visitantes e forasteiros ficam fascinados pela iguaria e experimentar o pequi é uma constante entre os tantos andarilhos por Goiânia.

E o pequi, como outros elementos da culinária regional brasileira, está repleto de carga simbólica. O saber simples e cotidiano relacionado à colheita, preparo, tempero e modos de comer (são muitos os casos de forasteiros que se machucaram com espinhos após morder um pequi) é repassado pessoalmente a cada situação alimentar e o conhecimento sobre o pequi é um orgulho entre o povo do Cerrado.

Além disso, o pequi é celebrado. Meses de espera para as colheitas fazem das primeiras galinhadas e panelas de arroz com pequi pequenos, mas importantes, eventos familiares locais. O pequi é uma das características de um ritual do encontro no verão, é comida de domingo, de situação especial, de comemoração. E quanto mais caroços roídos nos pratos, significa que mais festivo foi o momento.

(Por Mayra Fonseca)