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A gente acha que as coisas são como são. Daquele único jeito como aprendemos.

Mas existem vários jeitos de existir, de perceber o mundo ao redor, de sentir.

 

E estudar regionalismo negrita esses diferentes modos de ser.

Sempre achei que viajar ou estudar outras culturas, ao longo da história, é tanto um exercício de humildade (não sou tão especial assim) quanto de aprendizado (posso fazer as coisas de forma diferente).

 

Penso que existem lugares que são marcados pela escassez. Assim, na minha opinião, é o Sertão.

Nesses lugares, a presença de algo ou alguém é esperada e celebrada.

 

Da água ao amor.

Tudo é raro e, portanto, precioso.

E ser esforçado é algo inerente: cabra preguiçoso, não tem o que beber.

 

Fico pensando que essa característica – a escassez – talvez está por trás do cuidado nos mínimos detalhes: bordados de vestidos, formas de pendurar cortinas, aproveitamento de ingredientes em vários pratos. É como se não existisse o “velho”, aquilo (a roupa, o violão, o amigo) é importante justamente porque existe há tanto tempo.

 

E, sim, fiquei pensando nas formas de amor sertanejo.

Até pensei que o tema poderia ser meio jeca, até que me lembrei de Xico Sá: aquele sertanejo que escreve tão bem sobre relacionamentos.

 

A grande festa do interior do sertão é a quermesse. Portanto, o rapaz tem que se esforçar pra tirar a moça pra dançar bem ali… na praça, diante do padre e das tias.

A produção é a flor e aquele vestido estampado de sempre. E daí a moça tem que caprichar é no sorriso e no jeito de dançar.

Pouca gente tem carro. E não existe metrô. O único jeito do moço é pegar uma bicicleta Caloi antiga, caminhar bastante… pra ir ver a menina no sofá da família.

E a noção de amor é construída a partir da analogia de “passar uma vida comendo kgs de farinha”.

 

Meu avô laçou minha avó e levou a moça embora.

Meu pai costuma dizer: “é que as coisas andam fáceis demais nesses outros lugares, daí o povo fica confuso”.

E eu, vou por aí aprendendo que essa é a realidade de onde venho, mas que existem outras formas de amar.

 

(Por Mayra Fonseca. Xilogravura de J. Borges)