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Tereza Bettinardi, designer gaúcha, chama atenção para um simples e importante objeto da cultura dos Pampas Gaúchos, a garrafa térmica:

Para os habitantes do extremo sul do Brasil, “pago” quer dizer o lugar onde se nasce e “querência” é o lugar onde se vive. Nasci em Santa Maria, um município gaúcho de transição entre a Serra e o Pampa e depois de quase oito anos em São Paulo, o Sul também se transformou em um grande enigma.

A cor do céu. O céu de Porto Alegre. A paisagem é a primeira coisa a se notar. Ou as coxilhas, as frias madrugadas, as cidadezinhas à beira do caminho, as estâncias, a estrada cada vez mais em linha reta quando se lança mais ao sul, as histórias de beira de fogueira embebidas no gosto amargo do chimarrão. E se os objetos contam a história de um lugar, este post chama atenção a um objeto normal. Por normal digo aquela classe de objetos de que misturam confortavelmente em nossas vidas sem precisarmos pensar na sua forma, nem que se decifre mensagens ocultas ou truques.

Dizia o Analista de Bagé, provavelmente o mais famoso personagem de Luís Fernando Veríssimo, que deveríamos prestar atenção na importância sociológica da garrafa térmica. Responsável pelo aumento considerável da mobilidade do gaúcho – “já que chaleira e lenha vermelha são difíceis de carregar” – a garrafa térmica é, dizia o Analista: “a segunda maior responsável pela evasão de gaúchos para outros estados, depois do governo”.

Ironia à parte, é certo que o chimarrão – o tradicional chá quente de erva-mate – é um símbolo de reconhecimento dos gaúchos que estão longe dos “pagos”. A cuia e a bomba se traz na mala do retirante, a erva-mate se “descobre” na nova cidade e a térmica para água quente… bem, esta podemos encontrar no mercado de qualquer lugar, certo? Sim, mas com algumas partes faltando.

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(Foto de divulgação do produto, pesquisa feita pela Tereza)

A imagem do gaúcho montado no cavalo crioulo – um animal forte, resistente ao frio, valente e excelente para o trabalho no campo – é a marca de representação de todos os rio-grandenses. É a imagem que nos vincula aos países vizinhos Uruguai e Argentina e nos “estrangeiriza”, como apontou Vitor Ramil, na sua Estética do Frio.

(Por Mayra Fonseca. Ilustra o post a foto de Eneida Serrano, da série Interiores).