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Nunca pensei em fazer um documentário.

Um dia meu amigo Eduardo Nazarian me ligou estarrecido, dizendo que tinha visto Dominguinhos tocando, só ele e a sanfona, no lançamento de um livro e me falou: “Mari, temos fazer alguma coisa com ele, um disco, um dvd, um filme?” Nossa Dudu, um filme? ” É, um filme.” Sem nem saber onde começar, mais movida pelo amor que tinha pelo Dominguinhos, pela sua música e pela certeza de que aquela história tinha que ser eternizada, eu topei na hora: “-Vamos fazer “.

Conheço Dominguinhos desde pequena, minha tia era sua produtora de estrada. De estrada mesmo, nunca avião. Depois dancei muito ao som dele nos forrós e fui atrás dos seus discos dos anos 70. Mais tarde, tive a grande sorte de cantar com ele em alguns shows.

A jornada do documentário começa há 6 anos.

Nossa idéia era mostrar o Dominguinhos sertanejo, o menino pré destinado a ser o sucessor de Luiz Gonzaga, o artista popular, sim. Mas também era mostrar um Dominguinhos que pouca gente conhece: jazzista, improvisador, universal.Virtuoso que nunca estudou música. Dominguinhos que escolheu o nome de sua filha Liv por causa do Bergman, Dominguinhos motorista, vô. Dominguinhos generoso , que não sabe dizer não. Fomos eu, Dudu e Duani almoçar com ele para comunicar nossa decisão e perguntar o que ele achava. Eis que veio a resposta mais linda: “Toda idéia merece ser respeitada”

Assim era Dominguinhos. Grande, muito grande. Simples, muito simples. Desde então seguimos o acompanhando por suas caminhadas: shows, ensaios, estradas pelo nordeste, festas juninas, almoços de família, hospitais e muito amor, sempre.

Aprendi muito com ele nessa convivência, mas a coisa que mais levarei comigo é a sua humildade, seu carater. Cumprimentava todas as pessoas, tratava todos iguais, do frentista ao maestro, do cara do cabo ao cara da grana, não tem separação porque assim é e os grandes sempre sabem do seu tamanho diante das estrelas.

Presenciamos encontros e despedidas, esplendores e misérias, ouvimos historias, lembramos saudades. Vimos Juazeiros, Assuns Pretos e Asas Brancas e todo o Sertão Nordestino brotar em uma tarde musical com Hermeto Paschoal. Escutamos histórias de amizade, da estrada, de morenas e xodós na conversa com Gilberto Gil.

Revivemos o balanço dos inferninhos das noites cariocas dos anos 60 no trio formado por João Donato, Luis Alves e Wilson das Neves. Atravessamos outros Sertōes com o Lamento Sertanejo interpretado por Yamandu Costa, Hamilton de Holanda e Mayra Andrade. Vimos com Lenine, luzes e arrebois produzindo seu brilho mais intenso ao mesmo tempo que iam se apagando. Fomos no começo, no Sertão de tudo, e acompanhamos até o final, a sua travessia. (Acabamos ficando com um material muito grande e precioso na mão: as últimas entradas de Dominguinhos com pessoas importantes em sua história pessoal e musical.) Como é impossível colocar tudo em 1 : 30 de filme, decidimos prestar nossa homenagem e disponibilzar tudo de graça na web.

Hoje escrevendo aqui e olhando o filme quase pronto, vendo tudo que percorremos, me emociono demais. Foi um surto, uma eternidade e um piscar de olho. Um devaneio que tinha que acontecer e a vida usou a gente pra concretizar.

Gostaria de agradecer primeiramente a Dominguinhos, a sua família, a todos os músicos e pessoas queridas que participaram do filme com tanto amor. A Big Bonsai que abraçou desde o começo e toda a equipe do documentário. Aos patrocinadores e apoiadores. Ao Dudu, Duani, Kim e Di . E a Deusa Música que une e eterniza.

Dominguinhos, eterno, te amo.

Mariana Aydar, diretora do Documentário Mais

Pesquisa e entrevista: Ana Luiza Gomes