Fomos bater um papo com o Roni, artista, cenógrafo e designer, dono do Estúdio do Morro, um espaço de trabalho compartilhado, no Morro do Querosene. Começamos a nos apresentar e já puxamos uma lista de conhecidos e projetos em sintonia. Empolgamos muito com a ideia e fomos além! O Estúdio será o novo endereço da nossa Biblioteca Itinerante. Estamos nos programando para, em breve, convidar a todos para nos visitar por lá. Enquanto isso, Roni nos responde: “Por que Fazer um Estúdio no Morro do Querosene?”

Estúdio do Morro / Foto: Divulgação

“Gosto de dizer que sou um judeu com alma negra, sempre me emocionei com ritos, músicas, tradições, raiz. Aquilo que vem da alma, da essência. Amo essa essência. Acho que estamos sem raízes nestes nossos tempos contemporâneos. É tudo e nada. Muita coisa vazia.

Desde muito tempo conheço o Morro do Querosene, já tinha vindo em festas do Boi por aqui, assim como muitos outros que vieram viver aqui no bairro. Como artísta, cenógrafo, designer.. Sempre trabalhei em casa, lá na edícula. Porém, sempre de olho em um galpãozinho, um espaço maior, pra eu poder espalhar minha bagunça.

Um dia, vendo uns espaços pela região, o corretor, me trouxe até aqui. Disse ele: “Acho que você vai gostar da casa da Dona Luzia”. Vim gostei, fiquei e aqui montei meu estúdio.

Já gostei logo de cara por que era a casa da Dona Luzia, a casa era de alguém, assim, chamada pelo nome. Família italiana, e ela tinha um marido que era serralheiro e fez a casa toda com muito ferro. Forte, resistente e um pouco torta. Com tudo que é feito na raça.

Quando vivemos e/ou trabalhamos em um bairro é assim, conhecemos as pessoas pelo nome. Nossos vizinhos e parceiros do cotidiano.

Chamo o morro do Querosene de novo Brooklin, Kreuzberg ou Williamsburg. Um bairro do outro lado do Rio, cheio de artístas, onde o tempo passa mais devagar. Com sua própria constituição. Um bairro múltiplo, com pessoas de diferentes classes sociais, diferentes níveis de atuação e que se respeitam, convívem. Acho que aqui é um pedaço daquilo que a gente mais precisa nesta cidade. Humanidade, valores e consciência de cidadania.

Aqui, montei meu estúdio. Primeiro era só meu estúdio, trabalhava só. Pensei, por que não trazer mais pessoas pra cá, pra dividir o espaço e fazer dele um centro de criação e produção de arte? Por esse motivo, 1 ano e meio depois montei o Estúdio do Morro. Um espaço para artístas poderem produzir seus projetos, pra discutirmos arte, urbanismo e cidadania. Um Atelier aberto, com pintores, designers, fotógrafos, marceneiros, programadores. Tudo ao mesmo tempo agora. Assim é a minha vida. Tudo ao mesmo tempo.

Foi e está sendo incrível. Hoje somos muitos e a cada dia temos um novo aprendizado, uma nova troca de ideias. Chamei de Estúdio do Morro. Mas existem muitos outro estúdios no Morro, ainda bem! Somos vários e essa grande classe artística enriquece mais o nosso dia a dia. O bairro respira arte, com suas ruas pintadas.

Roni Hirsch

Esse mundo paralelo, onde a raiz se encontra com o mundo contemporâneo. O sentimento de pertencimento. Não somente ao bairro, ou ao país. Mas à Cultura. A cultura brasileira é mais, sempre mais, muito mais do que aquilo que a gente supõe que entende. O que está enraizado dentro de nós é algo difícil de se explicar em palavras. Acho que é por isso que temos tantos tipos de expressões artísticas, só pela música, pelo samba de roda, pela dança, pela arte. Acho que só assim pra gente se expressar na nossa totalidade.

Enfim, é um prazer estar aqui e ter sido tão bem recebido por essa comunidade, tão pequena, mas tão forte e tão bem estruturada. Espero continuar sempre sendo bem acolhido.

E nem falei do Parque da Fonte, essa também é uma luta digna e esse parque tem que sair! Mas vamos deixar isso para um próximo momento… Afinal a pergunta era só: Por que fazer um Estúdio no Morro do Querosene?…. Aqui é assim, um assunto vai puxando o outro”.

Pesquisa e entrevista: Ana Luiza Gomes