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Ao entrar na Rua Santanésia, avistamos duas pessoas acenando e nos chamando para parar logo ali, em um muro colorido de serigrafias verdes e amarelas. Foi Marcelo quem nos recebeu, assim, de braços abertos. Fomos logo entrando na PIPARIA, uma padaria e piparia. Sim, lugar onde se faz pão e se faz pipa. O Mestre Pipeiro chama-se Mário. Não me lembro de nos falarmos sem ele ter uma pipa nas mãos. Até enquando comíamos, ele deixou a pipa amarrada na árvore. Ela ficou lá no alto, à mercê do vento.

Assim funciona a Piparia, aberta hà 4 meses. O que o vento trás, André e Marcelo recolhem, colhem, criam e recriam. Se um grupo de educadores propõem a participação deles num Projeto de Desescolarização com crianças, pra lá eles vão. O que é inesperado se torna rotineiro. E o pão fica, por enquanto, para os momentos de roda com os amigos. Para receber. Para nos receber, então, um risoto delicioso com direito a broto de bambu da roça da Marli (aposentada, foi morar num sítio perto de Sorocaba, mas não consegue largar o Morro – aonde mantém uma casinha linda e cheia de histórias que conhecemos ao sabor de um maravilhoso licor de nêspera).

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De sobremesa, um cafezinho com rapadura de uma tarde de um bom, muito bom papo sobre o Morro: Por que fazer uma PIPARIA no Morro do Querosene?

“A gente está no Morro porque nos encantamos um dia com essa portinha aqui quando procurávamos um lugar. Tínhamos um espaço na Pompéia, mas tivemos que mudar e viemos para cá. A ideia é fazer o pão caseiro e as embalagens de serigrafia para embrulhá-los. Daí veio o Mário, irmão do Marcelo, para fazer as pipas de serigrafia. Queimamos as telas aqui mesmo e ele as monta. Ele não pára. Às quintas, tínhamos uma oficina de serigrafia, mas terminou agora. A gente gosta muito que as pessoas que ficam curiosas com o processo, venham aqui e façam elas mesmas. Agora, a gente já começou a se envolver em outros projetos, como os do Grupo da Desescolarização. Os educadores usam o espaço para reuniões às segundas e durante a semana levamos as crianças para as atividades junto. E vamos tocando as ideias, convidando as pessoas para comer uma massa fresca, reunindo todos em volta da comida. A gente cozinha para reunir as pessoas. Ainda não podemos fazer o pão todo dia, como os vizinhos daqui nos pedem. Para fazer numa escala maior, não poderíamos usar os fermentos caseiros naturais, como é feito hoje. Às vezes a gente pula o muro ali, busca um abacate e fazemos disso um almoço. Tem dias que a Marli passa de bicicleta com os brotos de bambu do sítio dela e colocamos na comida de hoje, por exemplo. Aliás, hoje tem festa do Boi, vamos?”

Pesquisa e entrevista: Ana Luiza Gomes