Dé Schuw é uma mulher que escolhe e dança ritmos brasileiros para a festa Ferro na Boneca que organiza com amigos. Além das pistas, você pode ouvir suas seleções em sua página.

Mas, comece por aqui, com essa seleção bem temperada que ela fez para a Farofa do O Brasil Com S. Bom apetite:

A farofa acompanha de tudo, é vendida em vários lugares, é nutritiva e sacia a fome, sendo que a base da farofa é a farinha… farinha de mandioca ou farinha de milho…

Falando em farofa, lembrei-me das músicas que falam sobre comer, beber, sobre a forma que o brasileiro come e sobre como os músicos brasileiros tratam desse assunto em suas canções.

Erasmo Carlos e Jorge Ben gravaram em 1980 a música Comilão que conta a história do homem que ganhou de prêmio num programa de televisão: “Uma passagem pra comer pelo Brasil / Tudo de graça / Chorou de apetite / Fingindo que era emoção / Seus amigos sempre lhe falaram em pratos típicos”.

E como não ter referência de Chico Buarque e sua feijoada completa?: ” Mulher, você vai fritar / Um montão de torresmo pra acompanhar: Arroz branco, farofa e a malagueta / A laranja-bahia ou da seleta / Joga o paio, carne seca / Toucinho no caldeirão / E vamos botar água no feijão.”

Quando pensamos em marmita, pensamos no modo como a maioria dos trabalhadores brasileiros se alimentam na hora de seu almoço, João Bosco e Adir Blanc contam em O Rancho da Goiabada essa hora tão esperada: “Os bóias-frias quando tomam umas biritas / Espantando a tristeza / Sonham, com bife à cavalo, batata frita.”

A batida de limão ou mais conhecida como caipirinha é parte da tradição quando se fala em feijoada ou churrasco e sem farofa nenhum destes pratos está completo, então Aroldo Santos canta assim: “Meu negócio agora, bicho / É dizer para você / Que o limão é o maior barato, bicho / Só pra quem sabe beber.”

E o torresmo? Outro quitute tradicional brasileiro, cantado por Dona Clementina de Jesus e Adoniram Barbosa, ele aparece na música Torresmo à Milanesa: “O enxadão da obra / Vamo se embora, João / Vamo se embora, João / Que é que você troxe / Na marmita, Dito? / Truxe ovo frito / Truxe ovo frito / E você, Beleza, o que é que você troxe? / Arroz com feijão / E um torresmo à milanesa / Da minha Tereza”.

Mas, quando nos perguntamos, como essa farinha ou farofa chegou até aqui ou qual é a história da farinha… Raimundo Sodré canta na música A Massa Conta: “Moinho de homens que nem jerimuns amassados / Mansos meninos domados, massa de medos iguais / Amassando a massa a mão que amassa a comida / Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais / Quando eu lembro da massa da mandioca mãe, da massa”.

A música brasileira descreve até mesmo os nomes científicos da mandioca, como na música Farinha de Djavan: “A farinha é feita de uma planta da família das euforbiáceas, euforbiáceas” (…) “a farinha tá no sangue do nordestino / eu já sei desde menino o que ela pode dar / e tem da grossa, tem da fina / se não tem da quebradinha / vou na vizinha pegar pra fazer pirão / ou mingau / farinha com feijão é animal!”

Chegamos num ponto em que a farinha é usada como termo figurativo, é como se a boca de Jards Macalé estivesse cheia de farinha, a tal da Farinha do Desprezo: “Já comi muito da farinha do desprezo / Não, não me diga mais que é cedo / Hum, quanto tempo amor, quanto tempo tava pronta / Que tava pronta da farinha do despejo.”

Essa farinha aí parece que não estava muito boa, mas a do Felipe Cordeiro chega com gosto de Pará, Lambada com Farinha, essa é instrumental, é pra sair dançando na cozinha, agora, pense numa lambada com farinha… É uma sustança de lambada!

Chegando no final da minha lista de sons enfarinhados, não posso deixar de falar do meu amado Recife. Recife e seus caranguejos. Eu admiradora eterna da cultura regional nordestina, em especial a de Pernambuco e Recife, lembro-me quando estive lá ano passado e fui convidada a comer um caranguejo, prato típico da cidade. Os caranguejos cozidos com um caldo temperado que unido à farinha de mandioca vira um complemento para ser comido com as patinhas do caranguejo. Ary Lobo canta em O Vendedor de Caranguejos: “Caranguejo Uçá / Caranguejo Uçá / Apanho ele na lama e boto no meu caçuá / Tem caranguejo tem gordo goiamum / Cada corda de dez / Eu dou mais um / Eu dou mais um / Eu dou mais um / Cada corda de dez / Eu dou mais um.”

1. Comilão – Erasmo Carlos e Jorge Ben
2. Feijoada Completa – Chico Buarque
3. O Rancho da Goiabada – João Bosco e Adir Blanc
4. Batida de Limão – Aroldo Santos
5. Torresmo à Milanesa – Clementina de Jesus e Adoniran
6. A Massa – Raimundo Sodré
7. Farinha – Djavan
8. Farinha do Desprezo – Jards Macalé
9. Lambada com Farinha – Felipe Cordeiro
10. Vendedor de Caranguejo – Ary Lobo

(Esse prato de farofa é da Tia Su, em foto feita pela Flávia Valsani. O tema Farofa foi feito em parceria com Cozinha da Matilde).