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É Hildete Pereira de Melo, professoa da Universidade Federal Fluminense quem abre o tema da quinzena, respondendo: O que não sabemos sobre ambulantes no Brasil. Veja sua contribuição para O Brasil Com S:

A grande vantagem do comércio ambulante reside no fato de que essas pessoas realizam um comércio nas ruas que possibilita um rápido atendimento para as pessoas necessitadas de determinados produtos ou serviços. Esta é uma das grandes atrações desse comércio.

O avanço das sociedades industriais na segunda metade do século criou a ilusão que este comércio de rua iria ser extinto com o processo de desenvolvimento. Mas, será assim?

O comércio ambulante é um tema que a literatura socioeconômica tem relativamente explorado nas últimas décadas, dentro das abordagens da informalidade. Estas surgem na literatura das ciências sociais na década de 1970, com o programa de pesquisa elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a partir de um estudo feito para a economia do Quênia e  em seguida replicado na América Latina. Este conceito popularizou-se rapidamente ao longo dos últimos quarenta anos e têm sido objeto de muitos usos e debates no estudo do mercado de trabalho nacional e latino-americano.

O comércio de rua é uma atividade antiga que desde o século XIX, pelo menos, esteve presente na sociedade brasileira. Quem já não viu os desenhos feitos pelo pintor francês Debret, retratando africanas escravizadas que com seus tabuleiros vendiam “quitutes” nas ruas do Rio de Janeiro? De lá para cá, o comércio de rua resiste ao tempo: na virada do novo milênio fica evidente que o avanço dessas atividades não se apresenta mais como um fenômeno transitório.

Até porque o mercado de trabalho brasileiro teve seu desempenho afetado pelo desempenho da economia desde a crise da dívida externa e depois pela abertura comercial e financeira dos anos 1990. No rastro dessas transformações expandiram-se essas atividades e nesses anos o rendimento médio delas foi o de maior crescimento na economia nacional. Essa foi uma resposta ao incremento do desemprego e às mudanças na ocupação provocadas pela reestruturação das grandes empresas e modelos formais de trabalho.

O vertiginoso crescimento das metrópoles nacionais nos últimos trinta anos incentivou o crescimento desse comércio que se espalha pelas ruas das grandes cidades, sobretudo naquelas regiões onde a diversificação econômica foi e é mais restrita. Capitais nordestinas como Salvador, Recife, Fortaleza são algumas das que especialmente retratam a multiplicação dos ambulantes pelo espaço urbano.

Alguns dados apresentados aqui já dão, imagino, uma pista de resposta para a indagação “há futuro para o comércio de rua?”.

(Por Mayra Fonseca. O texto é ilustrado com imagem de cena do documentário Carrinhos de Café)