Nesta semana, estamos pensando sobre história do nosso país, sobre elementos e estilos que poderiam representar épocas de nossa sociedade.

Por isso, estamos tentando imaginar o que seria um Brasil Vintage. E, pra começarmos, resolvemos falar com o Adélia Works, uma dupla que trabalha bem esse conceito, e comercializa geladeiras e adegas 100% nacionais, com design retrô.

O Brasil com S – O que não sabemos sobre o que é brasileiro e vintage?

Thabata Guerra e Tiago de Carli, Adélia Works – O bom design

São muitos os temas que poderiam ser abordados quando se fala de vintage no Brasil. Optamos em retratar o segmento industrial e do design de produtos, algo que estudamos ao criar nossa marca, Adélia works.

A qualidade de ideias e materiais de antigamente não estava apenas no modernismo arquitetônico e decorativo caro e inacessível aos trabalhadores dos anos 50 e 60.

O bom design estava na classe média trabalhadora da época, que pegava bonde, trabalhava sob o tecido de um alfaiate local, possuía casas populares e ricas em detalhes, móveis simples, porém de ótima qualidade, eletrodomésticos inéditos como os refrigeradores, e para aqueles que conseguiam uma boa promoção: um VW Sedan 1200 em suas garagens.

Existe uma brasilidade enorme na classe média dessa época. Com recursos escassos, as famílias queriam apenas ficar no azul, sem varanda gourmet ou financiamentos eternos, longe de qualquer neurose por pertencer à classe B ou C. Essas famílias tinham algo que não existe mais, talvez uma tranqüilidade no viver, que de tão raro nos dias de hoje virou coisa do passado.

Industrialmente temos duas histórias bem brasileiras e não muito retratadas:

Nos anos 50 a DKV Vemag começava a produzir seus pequenos carros de 3 cilindros e nacionais. O começo da produção foi em 57 com uma licença de produção vinda da Alemanha, pois a marca DKV era parte da Auto Union que mais tarde viria a se chamar AUDI. Os carros eram feitos sob licença dos alemães, porém sem responsabilidade alguma para com a matriz, ou seja; toda tecnologia, peças e pessoal eram brasileiros e sem aporte de capital à matriz. A incrível fábrica da Vemag que ficava no coração de SP era nosso vale do silício da época e durou uma década. Nos anos 60 a VW comprou a fábrica prometendo não apagar as luzes, um ano após a compra não existia mais DKV Vemag.

Em 1947 foi fundada a Cerâmica Stefani, por dois irmãos. Era uma empresa 100% brasileira, que produzia artesanalmente filtros de barro. O Filtro de barro funciona através de uma vela cerâmica que filtra a água por gravidade, eliminando com muita eficácia cloro, metais, pesticidas e outras coisas não tão interessantes à nossa saúde. Em tempos de problemas ambientais e produtos descartáveis o filtro de barro brasileiro ganha destaque por sua alta eficiência. Algo que era fabricado há 65 anos atrás, e continua sendo usado até hoje.

O vintage brasileiro está em todo lugar: nos pisos de caquinho, nos azulejos antigos, no bolo da vovó, no trabalho do engraxate, e em tantos outros lugares, que como tudo o que está em nosso cotidiano, nos passa despercebido.

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