935208_453466994730530_1619701738_n

Comecei minhas pesquisas sobre Puxadinho no que me parecia ser o óbvio e principal agregador de qualquer assunto sobre residências no país: o Museu da Casa Brasileira. E foi no site do Museu que descobri um arquivo eletrônico compartilhado sobre os usos e costumes dos equipamentos da casa brasileira, o Arquivo Ernani, com toda uma categoria de pesquisa sobre os anexos das casas. Aqui: http://www.mcb.org.br/mcbText.asp?sMenu=P007

Não é de hoje que a gente puxa uma parede mais pra cá, puxa um muro mais pra cima, puxa uma laje encima do novo muro, puxa um novo muro encima da nova laje.

Desde a casa grande – e suas senzalas – que o espaço doméstico é constantemente reinventado de acordo com as necessidades dos moradores. Assim surgiram ampliações de cozinhas, alpendres, barracões para armazenar alimentos, novos quartos, maiores salas.

As construções de espaços de casa foram, em sua maioria, surgindo com espontaneidade na ocupação do país e modelos – europeus, africanos e indígenas – eram considerados apenas inspirações. A norma urbanística seguia muito mais um padrão de pertencimento e disputa estética local: uma casa tão grande quando a do fazendeiro, a mais bonita da região.

E o que estava por trás da informalidade de então era de um lado a ausência de normas concretas e, de outro, a liberdade propícia para a inventividade.

Hoje, ao pensarmos sobre Puxadinhos é normal dirigirmos nosso olhar para periferias e favelas. Sim, a informalidade permaneceu nesses espaços, mas por novos motivos. Porque esses eram à margem e, portanto, pouco vigiados; porque a ausência de recursos fomentou a inventividade.

Segundo o Observatório das Favelas, em sua declaração “O que é favela, afinal?”, uma das características da favela é justamente seu perfil sócio-urbanístico: “é um território de edificações predominantemente caracterizadas pela autoconstrução, sem obediência aos padrões urbanos normativos do Estado. A apropriação social do território é configurada especialmente para fins de moradia, destacando-se a alta densidade de habitações das suas áreas ocupadas e de sua localização em sítios urbanos marcados por alto grau de vulnerabilidade ambiental. A favela significa uma morada urbana que resume as condições desiguais da urbanização brasileira e, ao mesmo tempo, a luta de cidadãos pelo legítimo direito de habitar a cidade”.

Acho que essa inventividade – permitida ou necessária – é uma tradução da criatividade espontânea brasileira para o território do lar. E, sem manuais nem modelos, nosso povo poderia dar aulas práticas de como se expressar genuinamente e solucionar problemas de espaço sem muitos recursos.

Penso, mais uma vez, que todo esse material que temos nas ruas do Brasil rende tanto aprendizado quanto os livros estrangeiros que adoramos ler.