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Nesta quinzena, investigamos o tema Puxadinho. Sim, os anexos tão comuns nas casas de brasileiros.

E, para começar o tema perguntamos ao Laboratório Trinca, que funciona em um puxado em Belo Horizonte: O QUE NÃO SABEMOS SOBRE PUXADINHOS?

O LABORATÓRIO TRINCA RESPONDE:

Segundo o Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 1998, pag. 523, puxado é a construção criada por um prolongamento do corpo principal do edifício. Muitas vezes,constitui-se em acréscimo não previsto na planta original. Frequentemente, possui pé-direito mais baixo do que o corpo principal do prédio. Uma das primeiras modificações que ocorre no século XVII na residência colonial tradicional é o acréscimo de um puxado nos fundos para a cozinha. Nas casas das antigas fazendas de café, abrigava cozinha, copa, despensa e fornos. As modestas casas urbanas do final do século XIX têm acrescido à sua planta tradicional um puxado para cozinha e banheiro […] é também chamada puxada.

O puxado dá espaço ao improviso, ao mutável e aquilo que não está configurado. E nós encontramos, ainda hoje, abrigo neste lugar um tanto indefinido e de geometria pouco clara.

Nosso laboratório, por exemplo, foi montado em um puxadinho do bairro Coração de Jesus em Belo Horizonte. Da rua, na lateral esquerda da entrada principal de uma casa, se vê uma pequena porta verde, acima dela um pedaço de papelão com o número 165 B escrito à caneta. Ao entrar, um longo corredor. Dentro, um pátio nos fundos da casa de “frente” cercado de três puxados, cada um usado de acordo com seu tamanho e necessidade: um deles laboratório, lugar de reunião e discussão de ideias; outro oficina, onde construímos móveis; e no outro cozinha e banheiro. Esses três anexos são envolvidos por um amplo terreiro cimentado onde improvisamos um matagal.

Os puxados vem respondendo por anos a dinâmica de diversas famílias brasileiras. As casas se modificam de acordo com os desejos e necessidades da família que a abriga, se amplia pelos espaços vagos no terreno para abrigar um filho mais, a sogra, o carro novo.

Mas a cultura construtiva atual, de alguma forma, faz parecer que são as famílias que devem se adequar à casa. Salas, quartos, banheiros, cozinha e dependência de empregada completa (DCE) são componentes básicos em todo tipo de casa? Não se pode mais construir no terreno – que já possui a ocupação máxima permitida pela lei – ou porque a linguagem do puxado não condiz com a construção em questão, ou ainda porque fere alguma outra legislação de ocupação do solo de alturas máximas, afastamento mínimo, etc. E assim se mantém ativo o consumo imobiliário e os complementos A, B, C – usados para diferenciar os puxadinhos do mesmo terreno – são substituídos por 101, 201, 301, nos prédios de apartamentos.

A Trinca é um laboratório que propõem a produção e aplicação de pensamento, ferramentas, projetos arquitetônicos, urbanos e multidisciplinares. Constrói explorações teórico-práticas acerca de temas, conceitos e realidades como ação, cidade, construção, mobiliário, corpo, identidade, comunicação, caos e memória.

(A imagem do post é do artista brasileiro Felipe Morozini).